"Afinal de contas, somos alguém. Antigamente o mato, tão vazio de gente, me fazia medo.

Pensava só podia viver nas pessoas, vizinho de gente.

Agora, penso o contrário. Já quero voltar no lugar dos bichos.

Tenho saudades de ser ninguém."

-- Mia Couto --

Estas palavras do Mia, já em tempos me fizeram um bem enorme: era assim mesmo que me sentia!, e como explicar...?

Sem esperar e, numa das minhas leituras, encontro a definição perfeita na boca do poeta.

Pena é que, apesar dessa época estar bem distante, ainda hoje, sinto uma vontade enorme de ser ninguém!

Nem eu própria consigo entender isto pois, gosto de falar, gosto de conviver, rir, mas...gosto do mato: vazio de gente!

Gosto de lugar de bichos -- cada vez mais, o mato me atrai.

Quem sabe se, não será lá, que me descobrirei como gente, sendo...ninguém?!

Distraí-me e...o tempo foi passando! Se não fosse um amigo vir desenquietar-me, perguntando se andava a dormir: acho que ainda estaria por outros recantos.

Às vezes faz bem, o afastamento. Não sou muito de rotinas.
Bem mas, não foi só o amigo que me "acordou"...há dias fui até à Biblioteca cá da zona e trouxe um livro divertidíssimo -- quis partilhar convosco! Certamente já o conhecem de nome: O Código D'Avintes.
Um livro escrito a 14 mãos, e que mãos!!!!

O prefácio é do José Fanha.

Falo-vos no prefácio pois, tem uma mensagem muito importante para mim que, por várias pessoas amigas, tenho sido incentivada à escrita...

Eu gosto de escrever -- é verdade. É com prazer que o faço mas, daí a ser tentada a escrever um livro...

As primeiras frases do tal prefácio a que me refiro dizem tudo, querem ver? Ora aqui vai:

" Para os sete autores deste livro, escrever é um prazer, uma compulsão e uma alegria. Mas a vida e, sobretudo, os editores impõem regras, formatos e prazos, e, por isso mesmo, a escrita pode também tornar-se angústia, dúvida e bloqueamento."

Ora se escritores como estes que escreveram o Código D'Avintes -- Alice Vieira, João Aguiar, José Fanha, José Jorge Letria, Luísa Beltrão, Mário Zambujal e R. Lobato Faria -- estão sujeitos a tudo isto, quem sou eu -- se nem a gramática correctamente manejo -- para me meter nestas andanças...?!
Não!, escrever aqui, é divertido, não me sinto ultrajando ninguém e cá vou conversando com os meus amigos, transmitindo as minhas ideias, gostos, em suma: partilhando! Escrever um livro -- não!, seria como se me julgasse alguém que não sou...

Tenho muito respeito por quem escreve e o sabe fazer.

Por isso, cá vou partilhando as minhas leituras. Aconselho o Código mas...o D'Avintes!

Ah, pelo que li, os donos das 14 mãos , passada a inicial angústia e dúvida sobre o tema do livro...desbloquearam com um almoço bem regado.

O inesperado sucesso de Os Novos Mistérios de Sintra -- tal como o José Fanha nos relata:
" ...não nos tinha provocado a gula de prolongar a saga. No entanto, o Zé Jorge, que é um especialista em títulos, atirou o "Código d'Avintes" para cima da mesa e nenhum de nós lhe resistiu." (...)

" Há quem escreva livros notáveis sobre terras onde nunca pôs os pés. mas Avintes ficava a dois passos e, por isso, resolvemos lá ir, já que grande parte da acção do Código ali se iria passar. A Oficina do Livro alugou uma camioneta e aí vai um bando de escritores em alegrias excursionistas para conhecer o local dos crimes."

Bem, aqui fica lançado o "isco" para quem não conhece ainda este..."petisco"!

Atrevam-se -- tenho a certeza que irão gostar!

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